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Polícia

18/06/2018 11:45

Condenação de Maníaco da Lanterna é marco nos trabalhos investigativo e pericial

A condenação de 62 anos de prisão por mais dois assassinatos do criminoso em série, Cláudio de Souza, conhecido como “Maníaco da Lanterna” ou “Peninha”, é um marco nos trabalhos de investigação da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso e da Perícia Técnica. O maníaco aterrorizou a cidade de Alta Floresta (803 km ao Norte) nos anos de 2001 a 2005, com a morte de 15 pessoas, das quais 12 ele assumiu a autoria. 

Em 2018, o “serial killer” foi submetido a dois julgamentos no Tribunal do Juri. O primeiro ocorreu no dia 25 de maio, pela morte de Geyle Cristina da Silva, a qual foi condenado à pena de 32 anos e 5 meses em regime fechado, pela prática de homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver. O segundo aconteceu no dia 12 de junho, pelo assassinato de vítima Maria Célia da Silva Santos, para qual foi condenado a 30 anos de reclusão, no crime de homicídio duplamente qualificado.

O inquérito policial conduzido, à época, pelo delegado Gianmarco Paccola Capoani,  foi finalizado no ano de 2006. A investigação terminou com mais de três mil páginas. Somente o relatório de conclusão teve 361 laudas, todas dedicadas a vincular  elementos de provas colhidos ao longo de 5 anos de minuciosa investigação para levar a Justiça o assassino Cláudio de Souza, conhecido como “Maníaco da Lanterna”,  “Monstro da Lanterna”, “Tarado da Lanterna” ou “Peninha”, que foi indiciado por homicídios qualificados, crimes contra a fé pública, tentativa de homicídios qualificados e latrocínios. As penas somadas para todos os crimes que cometeu passam de 200 anos.

Perícia Técnica

Um dos trabalhos primordiais na investigação foi desenvolvido pela Perícia Oficial e Identificação Técnica, a Politec, em três exames de DNA (de cabelo humano e unha encontrados em locais de crime, confrontados com material do indiciado). Os DNA’s confeccionados nesse caso foram usados como justificativa para criação do banco genético da Politec. “Esse caso foi muito importante porque trouxe resultados muito positivo para Mato Grosso. Foi o ‘start’ para trazer o laboratório para Mato Grosso”, disse a diretora geral adjunta da Politec, Alessandra  Paiva Puertas, que à época do caso atuava como perita da área genética.

A perita lembra das dificuldades em colocar o suspeito na cena do crime. “Não tínhamos vestígios que o colocasse no local do crime. Mas ele deixava como marca um pedaço de cabelo. Na época era muito complicado fazer exames e não tínhamos laboratório em Mato Grosso. Estávamos nos capacitando e quando apareceu esse tufo de cabelo, vimos à possibilidade de fazer o exame no laboratório da Polícia Federal como parte desse treinamento. A mãe do suspeito se dispôs a ceder material e ligamos aquele cabelo com a linhagem materna do suspeito. E a partir daí colocamos ele no local do crime”, contou. 

Nesse caso, a Politec também realizou laudos necroscópicos de todas as vítimas, exame grafotécnico dos bilhetes, exames de balísticas, reconstituições de local de crime, auto de reconhecimento de pessoa, entre outros.

Foram apreendidos mais de 500 objetos, cinco armas de fogo, diversas munições, bilhetes, capuz com dois furos não-uniformes, cartuchos, câmaras de ar de bicicletas, além de outros objetos apreendidos que pertenciam ao maníaco, como duas camisetas com furos na barriga, onde ele usava para por nos olhos. "A manga da camiseta ele vestia no pescoço e os dois furos eram para enxergar. Foram apreendidos três desses objetos, uma balacrava com dois furos e depois uma camiseta escura com dois furos. No local do crime da Maria Célia, no meio de uma folhagem, tinha uma camiseta velha com dois furos. Isso foi muito interessante na investigação", conta o delegado Gianmarco Paccola. 

Mais de 100 pessoas foram ouvidas durante a investigação.No laudo confeccionado após a prisão de Cláudio de Souza, referente ao exame grafotécnico dos bilhetes apreendidos, o resultado foi positivo e apontou como sendo proveniente do punho de Cláudio as escritas dos bilhetes, os quais, o incriminaram também pelo próprio conteúdo de seus dizeres. 

Bilhete deixado em um dos locais de crime.


A polícia já tinha elementos suficientes da atuação do criminoso em todas as mortes, mas os exames de DNA “comprovaram de forma contundente e precisa a autoria delitiva de Cláudio de Souza tendo praticamente esgotado as investigações em dois casos”, destaca o delegado Gianmarco Paccola.

Vida de Crimes

Em 2007, a história do “Maníaco da Lanterna” foi contada no programa Linha Direta, da Rede Globo de Televisão. No dia 3 de abril de 2018, após vários anos foragido, Cláudio de Souza foi conduzido pela Polícia Militar a Delegacia da Polícia Civil de Alta Floresta, por porte ilegal de arma de fogo e posse de drogas, no bairro Cidade Alta, na casa de uma namorada. Na delegacia um investigador (Ednaldo Rosa e Silva) reconheceu o criminoso mais procurado de toda a região. Cláudio usava nome falso de “Anderson Caetano da Silva” e mesmo totalmente diferente, mais magro e careca foi reconhecido. Ele tinha passado dois anos escondidos em uma fazenda no município de Paranaíta.

Em doze dos quinze assassinatos, ele assumiu a autoria. Outros seis foram cometidos após sua fuga da Cadeia Pública de Alta Floresta, em janeiro de 2003, entre elas Geyle Cristina da Silva (19/12/2004) e Maria Célia da Silva Santos (08/02/2005).

Camiseta azul clara: roupa encontrada no local de crime do caso da Maria Célia com dois furos feitos por "Peninha" para servir de capuz, com "modus operandi" semelhante a outra camiseta.

O maníaco foi preso pela primeira vez em abril de 2002, depois de aterrorizar a região com vários assassinatos. Cláudio confessou todos os crimes e disse que matava porque ouvia a voz do demônio, coisas para fazer mal. Oito meses depois de ter sido preso, fugiu com mais nove detentos da cadeia pública. Ele continuou pela cidade onde voltou a atacar. 

"Antes de ser preso pela primeira vez ele estava mandando casais. Quando ele fugiu  começou a matar mulheres. Então são 9 vítimas entre casais e seis mulheres, pós fuga dele", contou o delegado Gianmarco Paccola.

Os crimes ocorreram entre os anos de 2001 a 2005. O maníaco achava suas vítimas em locais desertos e escuros da cidade, escolhidos pelos casais para namorar. Todos os crimes obedeciam a um mesmo padrão, “morte de casal em local ermo”. Encapuzado ele surpreendia as vítimas que eram arrastadas para locais desertos e em seguida executadas. Ele andava armado com uma espingarda calibre 20, se escondia pelo mato e usava uma lanterna para iluminar a escuridão. Como ninguém sabia a identidade do criminoso ele ficou conhecido como o “Maníaco da Lanterna”. 

Conforme Paccola, não há registro de violência sexual contra as vítimas. “Ele pegava a mulher ou o casal de surpresa, arrastava para um local distante e amarrava. Primeiro ele atirava no homem e depois na mulher”, detalhou.

Capa de chuva amarela: capa mencionada por testemunhas e utilizada pelo maníaco em cenas dos crimes.

O maníaco era andarilho e vivia pelo mato sempre carregando várias sacolas plásticas presas a uma bicicleta. O primeiro casal foi atacado em abril de 2001 enquanto namoravam dentro do carro, próximo a uma estrada afastada. A mulher foi morta e o homem conseguiu fugir. Ele foi perseguido pelo maníaco, mas conseguiu escapar e chamou a polícia. No local foi encontrado um bilhete escrito “toma traidora” e a chave do veículo roubado pelo indiciado. Em outro ataque, o maníaco matou uma mulher e sumiu com o corpo dela, que nunca foi encontrado.

Dos 15 assassinatos ocorridos na região, dois a polícia não conseguiu localizar os corpos, mas devido às semelhanças nas cenas do crime, acredita-se que ele seja também o autor da morte dessas duas vítimas.

“As vítimas foram assassinadas durante a noite ou madrugada, com lesões em grande maioria nas regiões torácicas e provenientes de disparos de armas de fogo, tendo na maioria dos casos havido arrastamento dos corpos e o uso de instrumento contundente - pauladas na região da cabeça das vítimas”,  relembra o delegado.

Uma das armas usada pelo maníaco.

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