O Banco Central do Brasil se prepara para dar um passo histórico na modernização do sistema financeiro: o lançamento do Drex, a versão digital do real. O projeto, previsto para estrear em 2026, coloca o país entre os pioneiros no desenvolvimento de moedas digitais de bancos centrais (CBDCs). A iniciativa promete eficiência, inclusão e novas possibilidades de negócio. Mas, em paralelo ao entusiasmo, cresce a desconfiança de que o Drex possa se transformar em uma ferramenta de vigilância financeira.
Do Pix ao Drex: a nova fronteira digital
O sucesso do Pix, que superou cartões de crédito e débito em número de transações em menos de quatro anos, mostrou a disposição dos brasileiros em adotar soluções digitais. O Drex surge como evolução natural, mas em um nível mais profundo: não é apenas um sistema de pagamento, mas a própria moeda em formato digital, com liquidação em tempo real.
Na prática, cada Drex terá o mesmo valor de um real físico. A diferença é que toda a circulação ocorrerá dentro da infraestrutura digital do Banco Central, mediada por bancos e instituições de pagamento.
O que está em jogo
O Drex traz consigo a promessa de redução de custos, contratos inteligentes e operações mais seguras. Imagine uma compra de imóvel em que o pagamento só ocorre quando o cartório confirma o registro. Ou um empréstimo garantido por ativos digitais, liquidados de forma instantânea entre as partes.
Para empresas, significa menos burocracia. Para o Estado, mais eficiência. Para a população, um sistema que pode tornar acessíveis serviços hoje restritos a quem tem poder econômico.
As preocupações com a privacidade
Mas toda essa inovação tem um custo. No Drex, cada transação deixa um rastro digital imutável, sob controle do Banco Central. Isso acendeu o debate sobre a possibilidade de se criar um Big Brother Financeiro no país.
“O Drex pode ser a maior inovação financeira da década, mas também carrega a possibilidade de se tornar um verdadeiro ‘Big Brother Financeiro’. Toda movimentação estará registrada, e isso significa dar ao Estado um poder sem precedentes sobre a vida econômica dos cidadãos”, avalia André Charone, consultor financeiro e mestre em negócios internacionais.
Charone explica que, apesar das garantias oficiais de que o sigilo bancário e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) serão preservados, o risco está na concentração de informações em uma única infraestrutura. “Não se trata apenas da tecnologia. É preciso discutir os limites institucionais e jurídicos. Sem regras claras de governança, a moeda digital pode se transformar em ferramenta de controle social”, alerta.
O que diz o Banco Central
O BC rejeita a ideia de vigilância. A instituição tem afirmado, em comunicados oficiais, que o Drex não substituirá o dinheiro físico e que as regras de proteção ao cidadão continuarão vigentes. O projeto é apresentado como um passo para aumentar a inclusão financeira, reduzir custos do sistema e dar segurança a operações que hoje são manuais e sujeitas a erros.
O futuro do dinheiro
Ainda que os riscos de vigilância sejam apontados, o Drex é visto como inevitável. Mais de 100 países estudam ou testam moedas digitais de bancos centrais, e o Brasil aparece entre os mais avançados. O desafio será equilibrar inovação com liberdade.
“O futuro do dinheiro será digital, disso não há dúvida. Mas a dúvida é se será também livre. Se não houver transparência e limites regulatórios claros, o Drex pode inaugurar um capítulo de vigilância financeira no Brasil”, conclui Charone.
Sobre o autor:
André Charone é contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais pela Must University (Flórida-EUA), possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV (São Paulo – Brasil) e certificação internacional pela Universidade de Harvard (Massachusetts-EUA) e Disney Institute (Flórida-EUA).
É sócio do escritório Belconta – Belém Contabilidade e do Portal Neo Ensino, autor de livros e centenas de artigos na área contábil, empresarial e educacional.
André é autor do livro 'A Verdade Sobre o Dinheiro: Lições de Finanças para o Seu Dia a Dia', um guia prático e acessível para quem deseja alcançar a estabilidade financeira sem fórmulas mágicas ou promessas de enriquecimento fácil.
O livro está disponível em versão física pela Amazon e versão digital pelo Google Play.
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