28 de março de 2024 - 19:04

Esporte

08/06/2021 10:34

Capitão Gustavo Gómez moldou a garra guarani com dois mil chutes por dia

Globo Esporte

 

Não era todo dia, porque a musculatura cobrava seu preço. Mas o garoto Gustavo Gómez Raul Portillo passou anos com treinos de alta intensidade na cidade natal de San Juan Bautista, em Missiones, departamento do interior do Paraguai.

Hoje ídolo palmeirense e de todo povo guarani, o capitão do Paraguai entra em campo nesta noite, às 21h30, com transmissão da TV Globo e ge direto de Assunção, pelas Eliminatórias, para evitar a sexta vitória consecutiva da Seleção de Tite e de Neymar.

Gómez deu os primeiros passos na escola de Carlos Guirland, ex-meia do Olimpia campeão da Libertadores de 1989. E os primeiros milhares de chutes também por lá, a quase 200 km da capital Assunção.

- Aqui somos um pouco duros com a bola. Minha ideia sempre foi aprimorar a técnica dos garotos. Para isso, podem dar por dois mil, 2,5 mil chutes por dia, com um descanso entre os dias. A essência do futebol é a técnica. Antes do lado físico e psicológico. Se a técnica não está boa, o psicológico também vai falhar - teoriza Guirland, que atendeu o ge por chamada de vídeo, direto de Missiones.

No Libertad, onde chegou com 18 anos, Gómez teve os cuidados de Marcelo Ataide, preparador físico e coordenador de base do clube de Assunção. Lá, conheceu um jovem completamente concentrado no trabalho. Lembra sempre do jogo em que reclamou de dores num dedo do pé e no vestiário descobriu ser uma fissura. Ainda assim, voltou e jogou até o fim.

- Ele joga como treina e treina como joga. Desde os juvenis, cada treino dele sempre foi muito intenso. Ele não negociava nada - lembra Ataide.

- Ele sempre foi 100% jogador, nunca foi 70% jogador. Ele é 100% futebolista - define Guirland.

Ele estava em campo na última partida entre Brasil e Paraguai, na Copa América de 2019. Jogo que terminou 0 a 0 com poucas chances de gol para o Brasil e muito trabalho de Gómez e de seus companheiros de Paraguai. A garra guarani tem na defesa consistente - e nenhuma vergonha de retranca - uma marca de anos e anos. Reconhecida pela seleção brasileira.

- Equipe que marca muito agressiva, tem defesa muito bem organizada. Conseguimos furar algumas vezes com algumas chances, mas não fomos efetivos. Eles te desgastam muito na marcação e sabem elevar esse nível de competitivade ainda mais contra o Brasil - comentou Cleber Xavier, auxiliar de Tite.

Comparações
Aos 28 anos, Gómez percorre caminho semelhante a de outro zagueiro paraguaio no futebol brasileiro. Ele foi comparado desde o início da carreira a Carlos Gamarra, que brilhou por Internacional, Flamengo e Corinthians no futebol brasileiro. Formou barreira quase intransponível na Copa do Mundo de 1998, com outros jogadores conhecidos do público brasileiro: Arce e Rivarola. O time dirigido por Paulo Cesar Carpegiani sofreu apenas um gol em quatro partidas na Copa da França. O segundo veio na prorrogação, justamente contra os donos da casa - em lindo chute de Thuram.

- Um jornalista paraguaio disse, quando ele tinha 17 anos, que o Paraguai tinha um sucessor de Gamarra. E acho que até a forma de caminhar é parecida. Ele também se antecipa muito no jogo. Sempre está bem colocado para sair duas jogadas antes. Está olhando, nunca está parado firme. Se ficar parado, se acomoda e perde tempo - analisa Guirland.

Ele acompanhou Gómez dos 13 aos 18 anos. Ele atuou também como meia e até como 9 por necessidade. Fazia viagens para Assunção ao lado de outros garotos da sua escolinha que também atuavam no Club 31 de Julio. Eram milhares de quilômetros por semana com os olhos no precoce jogador que pulava etapas mesmo em time amador de Missiones.

- Era um orgulho para a gente do interior. Ele ia para a seleção sub-17 com 14 anos, aos 15 teve chamadas para o sub-20 e aos 17 foi levado como sparring (time de treinos) para o Mundial da África do Sul por Tata Martino. Todos queriam saber quem era aquele garoto que estava na Copa e nunca tinha atuado na primeira divisão - lembra o ex-jogador.

Muito antes de ter um dos maiores salários do futebol brasileiro no milionário Palmeiras da Crefisa, o primeiro contrato mais alto veio no Lanús, da Argentina. Guirland pediu aos diretores que não lhe dessem ainda apartamento num primeiro. Antes, também tentava suspender uso de celular e tablet.

- Não queria sua independência muito jovem, porque depois vem a tentação, a noite, os amigos... Ele me escutou bastante. Depois aos 20 anos foi viver com sua família, comprou apartamento.

Mais tarde, também adquiriu carro novo e arrumou a vida da família, num roteiro bem similar a de tantos jovens talentos sul-americanos por este continente. Que até para realizar uma Copa América, para buscar unidade, não se entende.

- A vida não foi fácil para Gustavo. Mas tudo isso fortaleceu a sua mente. Para vencer o cansaço, para sonhar grande - diz Guirland, que segue como descobridor de talentos em Missiones.


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